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O Impacto da Compulsão Alimentar na Saúde Hormonal e Metabólica

Brunno Falcão

4 min

21 de ago. de 2024

A compulsão alimentar é um transtorno que tem ganhado crescente atenção devido à sua alta prevalência e às suas sérias implicações para a saúde. Este transtorno, caracterizado por episódios frequentes e descontrolados de ingestão de grandes quantidades de alimentos, não apenas desafia a saúde mental, mas também exerce impactos profundos sobre a saúde física. Estudos recentes revelam que a ingestão de grandes refeições, típica de episódios de compulsão alimentar, provoca alterações significativas nos níveis de glicose, insulina e leptina. Essas mudanças não só afetam o metabolismo, mas também têm repercussões sobre o equilíbrio hormonal. Isso pode estar relacionado a condições como a síndrome dos ovários policísticos e a vários defeitos hormonais e metabólicos, incluindo hipogonadismo e resistência à insulina. Resistência à Insulina e Implicações Metabólicas A ingestão de uma única grande refeição diária pode levar a alterações substanciais no metabolismo, mesmo em indivíduos saudáveis, sem histórico de transtornos alimentares ou disfunções menstruais. Esses efeitos são evidentes mesmo sem o consumo excessivo de calorias ou gordura. Em um estudo, ao simular uma "dieta de compulsão", observou-se um aumento de 8,4% nos níveis de glicose em jejum. Além disso, a resposta de insulina à refeição noturna foi drasticamente elevada em 108% em comparação com a resposta normal. Esse aumento na resposta insulínica não é apenas um reflexo de uma maior ingestão calórica. Em vez disso, pode indicar um problema subjacente na forma como o corpo processa e utiliza a insulina. Mesmo quando a ingestão calórica é controlada, a ingestão de uma grande refeição pode sobrecarregar a capacidade do corpo de regular os níveis de glicose, resultando em níveis elevados de insulina. Esse fenômeno sugere que a hiperinsulinemia observada pode não ser um sinal de resistência à insulina, mas pode resultar de um aumento na secreção de insulina estimulada por fatores como o GLP-1. Assim, a secreção aumentada de GLP-1 pode, em parte, explicar o aumento da resposta de insulina após a refeição de compulsão. Embora o estudo tenha limitado a coleta de dados a 12–14 horas, os resultados indicam que o padrão de refeições grandes pode ter efeitos persistentes na secreção de insulina. No entanto, é evidente a necessidade de mais estudos para explorar completamente os mecanismos subjacentes. Insulina e Leptina: Interações Complexas A leptina, um hormônio crucial para a regulação do apetite e do metabolismo energético, também desempenha um papel na secreção de insulina. Em condições normais, a administração de leptina pode suprimir a secreção de insulina das células das ilhotas pancreáticas. No entanto, durante episódios de compulsão alimentar, os níveis de leptina são 45% menores no momento da refeição noturna, contribuindo para a resposta aumentada de insulina observada nesses episódios. Além disso, o ritmo diurno da leptina, que é conhecido por estar relacionado ao ritmo diurno do cortisol, também pode ser afetado pelo padrão de ingestão alimentar. A secreção de leptina começa a aumentar aproximadamente seis horas após a ingestão de alimentos. Entretanto, a relação entre o ritmo diurno da leptina e o padrão alimentar ainda precisa ser melhor compreendida, especialmente para determinar se há um ritmo circadiano subjacente ou se o padrão de ingestão alimentar é o principal fator de modulação. Efeitos sobre o Ritmo Diurno e a Secreção de Dopamina No estudo, a coleta de urina revelou um aumento na excreção de dopamina durante a "dieta de compulsão", sugerindo que a resposta insulínica exagerada pode persistir ao longo da noite, mesmo após a ingestão de grandes refeições. A excreção aumentada de dopamina está associada à resistência à insulina e hipertensão, indicando que pode ser um marcador de resultados adversos associados à compulsão alimentar. Embora a coleta de urina tenha mostrado uma alteração no ritmo diurno da leptina, é necessário realizar estudos mais detalhados, que incluam uma amostragem mais frequente e controle rigoroso das variáveis circadianas, para entender completamente essas alterações. Prática Clínica Para mitigar os riscos associados ao Transtorno de Compulsão Alimentar, é crucial adotar uma abordagem clínica abrangente. O tratamento deve ser individualizado, levando em conta a gravidade dos sintomas, o curso da doença, as comorbidades psiquiátricas e fisiológicas, além do apoio psicossocial e familiar. Profissionais como psiquiatras, psicoterapeutas e nutricionistas devem trabalhar juntos em uma equipe multidisciplinar para oferecer um tratamento integrado. Avaliar a gravidade dos sintomas e considerar comorbidades são passos fundamentais para personalizar o tratamento. A colaboração entre a equipe permite ajustes constantes no tratamento, enquanto o envolvimento da família e da rede de apoio do paciente cria um ambiente favorável à recuperação. Além disso, considerar a motivação do paciente e utilizar terapias especializadas são estratégias essenciais para melhorar os resultados do tratamento. Seguindo essas orientações, médicos e nutricionistas podem oferecer um tratamento mais eficaz e holístico, promovendo a recuperação sustentável e melhorando a qualidade de vida dos pacientes com Transtorno de Compulsão Alimentar. Continue Estudando... Sugestão de Estudo: Etiologia dos Transtornos Alimentares Sugestão de Estudo: Impacto da Adolescência no Comportamento Alimentar Sugestão de Estudo:  Estratégias no Controle da Compulsão Alimentar Referências Bibliográficas: Taylor, A. E., Hubbard, J., & Anderson, E. J. (1999). Impact of binge eating on metabolic and leptin dynamics in normal young women.  The Journal of clinical endocrinology and metabolism ,  84 (2), 428–434. https://doi.org/10.1210/jcem.84.2.5502