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Como os Nutrientes da Dieta Influenciam o Microbioma Intestinal

Brunno Falcão

4 min

20 de ago. de 2024

O microbioma humano tem recebido cada vez mais atenção nos últimos anos. Ele é muito mais diverso do que as células humanas, o que torna desafiador compreender como os microrganismos e seus metabólitos influenciam a saúde e o desenvolvimento de doenças. Mas, como os nutrientes da dieta afetam o microbioma intestinal?  O cólon (intestino grosso) é o principal habitat das bactérias intestinais da microbiota, cuja composição e funções estão em constante evolução. Fatores como idade, genética, método de parto, alimentação infantil, medicamentos, localização geográfica e dieta influenciam a diversidade microbiana. Micronutrientes, como polifenóis do vinho tinto e do chá, e vitamina D, podem modular bactérias benéficas, enquanto fibras dietéticas promovem microrganismos benéficos e inibem os prejudiciais. A quantidade e tipo de gordura e proteínas na dieta também afetam a microbiota intestinal, impactando a proporção de Firmicutes/Bacteroides e a diversidade microbiana. Por isso, é essencial explorar o impacto dos micro e macronutrientes na composição do microbioma intestinal. Como os Micronutrientes da Dieta Influenciam a Microbiota Intestinal Polifenóis    Os polifenóis, encontrados em frutas, vegetais, grãos, chá, café e vinho, têm mostrado potencial para influenciar a microbiota intestinal, promovendo benefícios antioxidantes, anti-inflamatórios e anticancerígenos. Eles podem aumentar a abundância de microrganismos benéficos como Bifidobacterium  e Lactobacillus,  além de reduzir patógenos e o índice Firmicutes/Bacteroidetes (F/B). Esses efeitos são atribuídos à capacidade dos polifenóis de estimular a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), melhorando a saúde intestinal e reduzindo a inflamação.  Vitaminas    As vitaminas desempenham papéis essenciais na função fisiológica e podem impactar a microbiota intestinal de várias maneiras. A vitamina A pode modificar a microbiota e auxiliar no tratamento de condições como autismo e infecções. As vitaminas do complexo B influenciam a colonização bacteriana e a virulência de patógenos. As vitaminas C, D e E também têm efeitos sobre a microbiota e, associadas com a vitamina D, há melhorias na saúde intestinal e há redução da inflamação. A suplementação vitamínica pode alterar a microbiota intestinal, mas os efeitos são dependentes da dose e do tipo de vitamina.  Minerais e Elementos Traço    Minerais e elementos traço são essenciais para o metabolismo e interagem com a microbiota intestinal. O cálcio pode promover um fenótipo magro e aumentar a diversidade microbiana. A deficiência de magnésio pode alterar a microbiota intestinal, enquanto o ferro frequentemente reduz microrganismos benéficos e aumenta patógenos, com efeitos variáveis segundo a forma química e administração. A suplementação de fósforo e zinco pode aumentar a diversidade e promover microrganismos benéficos. O selênio aumenta a diversidade microbiana e favorece alguns microrganismos benéficos, enquanto o iodo pode causar disbiose, dependendo da dieta.  Como os Macronutrientes da Dieta Influenciam a Microbiota Intestinal Carboidratos     Os carboidratos são a principal fonte de energia para o corpo humano e desempenham um papel importante na modulação e formação da microbiota intestinal. Os carboidratos derivados de plantas que não são digeridos no trato digestivo superior, como as fibras alimentares, influenciam a fermentação pelas bactérias intestinais. Dietas ocidentais com baixo teor de fibra reduzem a abundância de Bifidobacterium  e a diversidade da microbiota intestinal. Dietas ricas em fibras, como a dieta mexicana pré-hispânica, podem melhorar a disbiose intestinal e aumentar a abundância de Lactobacillus. A suplementação com fibras, como arabinoxilanas e oligofrutanos, tem demonstrado aumentar as populações de Bifidobacterium , Lactobacillus , e outras bactérias benéficas, e reduzir o índice Firmicutes/Bacteroidetes. O amido resistente e a polidextrose também têm mostrado potencial prebiótico, promovendo a abundância de bactérias benéficas. Esses carboidratos podem restaurar a microbiota em condições de disbiose e podem ser usados como intervenção terapêutica para doenças metabólicas. Gorduras (Lipídios)    Um padrão alimentar rico em gorduras saturadas e/ou totais tem efeitos adversos consistentes na microbiota intestinal, reduzindo sua riqueza e diversidade. Dietas com alto teor de gordura aumentam a relação Firmicutes/Bacteroidetes (F/B) e a abundância de Firmicutes , enquanto diminuem a proporção de Bacteroidetes . Essa mudança na microbiota está associada a condições como obesidade e diabetes tipo 2. Dietas com menos gordura (20-35%) podem restaurar a microbiota intestinal, especialmente em pessoas com doenças metabólicas. Além disso, as gorduras saturadas tendem a reduzir microrganismos benéficos enquanto as gorduras insaturadas promovem o crescimento de bactérias benéficas e reduzem bactérias prejudiciais. Uma dieta rica em gordura é prejudicial à saúde intestinal, mas pode ser revertida com uma dieta com menor teor de gordura. Proteínas    O tipo e a quantidade de proteína na dieta têm efeitos significativos na microbiota intestinal. As proteínas do soro do leite promovem o crescimento de Lactobacillus e Bifidobacteria , enquanto proteínas do queijo e caseína podem aumentar bactérias prejudiciais. A proteína do feijão mungo pode reverter desequilíbrios induzidos por dietas ricas em gordura, enquanto a proteína animal está associada a uma maior sensibilidade à inflamação intestinal. O impacto das dietas proteicas também varia com a quantidade de proteína e o método de preparo dos alimentos. Proteínas de soro em altas concentrações e dietas ricas em proteínas animais podem reduzir microrganismos benéficos e aumentar a inflamação intestinal, enquanto métodos de cocção diferentes afetam a fermentação e a composição da microbiota.  Prática Clínica    A disbiose intestinal é crucial no desenvolvimento de doenças como diabetes tipo 2 e cardiovasculares. A microbiota intestinal, influenciada pela dieta, pode ser melhorada com polifenóis e vitaminas A, C, D e E, que aumentam os microrganismos benéficos. Além disso, carboidratos como fibras dietéticas são essenciais para uma microbiota saudável, enquanto que as gorduras insaturadas favorecem microrganismos benéficos e as gorduras saturadas contribuem para a disbiose.  A abordagem prática, portanto, inclui a prescrição de dietas que promovam uma microbiota saudável. Dietas ricas em fibras, assim como a suplementação de fibras, podem ser consideradas para melhorar a diversidade microbiana e combater a disbiose. Além disso, dietas anti-inflamatórias, com menor teor de gorduras saturadas e maior quantidade de gorduras insaturadas, também podem beneficiar a saúde intestinal. A inclusão de proteínas que promovem o crescimento de microrganismos benéficos, como as proteínas do soro do leite, é recomendada. Ademais, dietas com menor teor de gordura e ricas em carboidratos complexos, como a dieta mediterrânea, podem melhorar a sensibilidade à insulina e reduzir a inflamação. Assim, essas estratégias dietéticas podem ser integradas na prática clínica para otimizar a saúde intestinal dos pacientes.  Continue Estudando… Sugestão de Estudo: Impactos da Alimentação na Microbiota Intestinal Sugestão de Estudo: Carboidratos e seu impacto na Microbiota Intestinal Sugestão de Estudo: Influência da Dieta Vegana na Microbiota Referências Bibliográficas Yang, Q., Liang, Q., Balakrishnan, B., Belobrajdic, D. P., Feng, Q. J., & Zhang, W. (2020). Role of Dietary Nutrients in the Modulation of Gut Microbiota: A Narrative Review. Nutrients , 12 (2), 381. https://doi.org/10.3390/nu12020381