A nefrolitíase ou cálculos renais, como é popularmente conhecida, consistem em uma condição médica comum influenciada por diversos fatores, dentre eles, a dieta e a nutrição. Uma vez que os hábitos nutricionais desempenham um papel relevante na gênese e recorrência da litíase renal, a manipulação dietética tornou-se uma ferramenta fundamental para o manejo clínico da nefrolitíase.
Causas
A via patogênica para formação de cálculos renais mais comum é a que se dá através do oxalato de cálcio que inclui vários processos, a partir de nucleação, crescimento de cristal e agregação de cristal. Muitos fatores influenciam a supersaturação urinária para oxalato de cálcio, sendo classificados como promotores ou inibidores. Baixo volume urinário, alta excreção urinária de cálcio, oxalato e urato são considerados promotores. Além disso, citrato, magnésio e potássio e outras substâncias orgânicas como nefrocalcina, fragmento-1 de protrombina urinária, osteopontina são conhecidos por inibir a formação de cálculos.
Dessa forma, além das causas metabólicas e endócrinas, a literatura aponta uma relação direta entre a formação de cálculos renais e hábitos alimentares pouco saudáveis, obesidade e sedentarismo. Entretanto, diferentes componentes da dieta podem alterar a composição da urina. Assim, aumentando sua supersaturação, que é a base da formação de cálculos.
Oxalato
O oxalato é encontrado principalmente nas plantas, que o utilizam para eliminar o excesso de cálcio presente na água sob a forma de oxalato de cálcio. Ou seja, se acumula nas folhas, frutas e sementes. Portanto, quando essas partes são descoladas, o excesso de cálcio é eliminado juntamente com o oxalato.
Por esta razão, grandes quantidades de oxalato são geralmente ingeridas todos os dias, embora a quantidade exata seja difícil de estimar. Um exemplo particular de alta variabilidade no conteúdo de oxalato dos alimentos é o chá: o chá preto tem maior concentração de oxalato em comparação com oolong ou chá verde. Além disso, outros fatores como tempo de infusão, qualidade do chá, preparo, origem e período de colheita influenciam a excreção urinária de oxalato.
De qualquer forma, apenas 50% da excreção urinária diária normal de oxalato é de origem alimentar. A quantidade restante é devido ao metabolismo hepático endógeno. Essa molécula não tem função nutricional e, portanto, é eliminada pelos rins. Entretanto, na urina, liga-se rapidamente ao cálcio, aumentando a supersaturação de oxalato de cálcio.
Intestino
Normalmente, a absorção intestinal de oxalato é baixa e altamente variável (cerca de 10% a 15%). No entanto, em indivíduos sem síndrome de má absorção, a absorção intestinal de oxalato pode aumentar apenas quando o cálcio ionizado intestinal é reduzido. Geralmente, isso ocorre devido ao alto consumo dietético de fitato (molécula de ligação ao cálcio) e/ou dieta pobre em cálcio. Além dos quadros de hiperoxalúria, um distúrbio genético caracterizado por deficiência total ou parcial das enzimas envolvidas no metabolismo do glioxilato que tende a resultar na superprodução de oxalato de cálcio.
No caso da hiperoxalúria, está sendo investigado o papel do anaeróbio Oxalobacter formigenes, que garante saúde da microflora intestinal e degradação do oxalato. Como resultado de sua atividade, a absorção de oxalato diminui, minimizando a hiperoxalúria. Portanto, seu uso posterior como probiótico pode ser benéfico na prevenção de cálculos recorrentes.
Prática Clínica
Nutricionistas podem fazer uso da coleta de urina de 24 horas ou ainda utilizar de dados metabolômicos para entender a ingestão de sódio, proteína, ácido endógeno e vegetais. E, dessa forma, prescrever modificações dietéticas e de estilo de vida assertivas com base na interpretação das excreções de solutos urinários ou níveis de metabólitos, evitando indicações amplas e difíceis desnecessárias.
Ademais, evitar alimentos ricos em oxalato só é benéfico para pacientes com hiperoxalúria devido à hiperabsorção intestinal de oxalato. Nesse contexto, recomenda-se reduzir a ingestão de alimentos ricos em oxalato, como espinafre, ruibarbo, salsa, cebolinha, folhas de beterraba, chá verde, chocolate e alimentos ricos em vitamina C. A literatura indica, ainda, dados promissores quanto a vitamina B6 induzindo excreção reduzida de oxalato e, portanto, sua suplementação sendo benéfica para tais pacientes.
Referências Bibliográficas
Sugestão de Leitura: O Consumo Excessivo de Proteína Causa Problema no Rim?
Assista ao vídeo com o nutricionista Felipe Ribeiro na plataforma Science Play – Creatina e Função Renal: O Que a Literatura Mais Atual Aponta?
Artigo: Cálculos renais e nutrição: Ferraro PM, Bargagli M, Trinchieri A, Gambaro G. Risk of Kidney Stones: Influence of Dietary Factors, Dietary Patterns, and Vegetarian-Vegan Diets. Nutrients. 2020 Mar 15;12(3):779. doi: 10.3390/nu12030779. PMID: 32183500; PMCID: PMC7146511.