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“Mindful Eating”: Como influencia na longevidade?

Brunno Falcão

5 min

23 de jul. de 2024

A supernutrição infantil pode ser um fator contribuinte para a obesidade na vida adulta.  Muitas crianças são ensinadas desde cedo a associar hábitos alimentares saudáveis à ideia de que cada refeição deve ser completa e satisfatória, um padrão que pode persistir ao longo da vida, resultando em excessos alimentares prejudiciais . Além disso, vivemos em uma era onde a distração  é prevalente. Estudos mostram que passamos quase metade do nosso tempo distraídos, preocupados com o passado, o futuro ou situações que nunca ocorrerão. Esta constante falta de presença no momento presente pode levar a uma vida vivida superficialmente . Dessa forma, a prática do Mindfulness surge como uma ferramenta para reconectar com o presente,  permitindo uma experiência mais plena da vida que temos. Isso não apenas promove o bem-estar imediato, mas também pode contribuir para um envelhecimento saudável, o que é essencial para o Healthspan. O que é Mindful Eating? Mindful eating é uma maneira de se conectar com suas experiências alimentares, com seu corpo e com a alegria de desfrutar desses momentos com prazer . Essa prática pode ser estendida para diversas outras áreas da vida que são nutridas pela alimentação. A essência do mindful eating é comer com atenção plena , o que inclui sintonizar-se com os sinais naturais e físicos da fome, realmente apreciar os sabores dos alimentos, cultivar sabedoria em relação ao valor nutricional e energético dos alimentos consumidos regularmente, ser consciente nas escolhas alimentares para o prazer e a saúde, e aprender a reconhecer quando estamos satisfeitos o suficiente. Incorporar esses princípios não apenas promove uma relação mais saudável com a comida, mas também fortalece o vínculo emocional e físico com o ato de se alimentar , resultando em benefícios holísticos para o bem-estar geral. Mindful Eating e Healthspan O Mindful Eating está intrinsecamente ligado ao Healthspan devido a uma série de benefícios, que incluem a redução do estresse, da depressão e da ansiedade, bem como a regulação da atenção e o controle do diabetes tipo 2.  Ademais, influencia positivamente o funcionamento do trato gastrointestinal, promove a reprogramação epigenética, contribui para a manutenção do peso corporal e facilita o emagrecimento. Também melhora a qualidade de vida e auxilia no manejo do comer emocional e dos transtornos alimentares. Mecanismo de Fome e Saciedade Múltiplos fatores regulam nossos mecanismos de fome e saciedade, abrangendo aspectos biológicos, comportamentais, psicológicos, sociais e ambientais. No centro desses processos estão os centros hipotalâmicos responsáveis por equilibrar a ingestão alimentar , como a área hipotalâmica lateral, núcleos ventromediais, núcleo paraventricular, núcleo dorsomedial e os núcleos arqueados do hipotálamo, onde neurônios  específicos controlam a produção de hormônios e peptídeos que estimulam ou inibem o apetite. Nos núcleos arqueados do hipotálamo, por exemplo, encontramos neurônios produtores de pró-opiomelanocortina  (POMC), que secretam hormônios como a-MSH e CART, conhecidos por seu papel anorexígeno , e neurônios produtores de proteína relacionada a agouti (AgRP) e neuropeptídeo Y (NPY),  que atuam como orexígenos , estimulando a ingestão alimentar.  Além desses centros, os mecanismos de controle de fome e saciedade envolvem componentes orais como mastigação, salivação, deglutição e paladar,  que contribuem para o reconhecimento e avaliação dos alimentos antes de enviar sinais de saciedade ao hipotálamo. Adicionalmente, o córtex pré-frontal, giro do cíngulo e o Núcleo Accumbens compõem os centros hedônicos da fome , associados à per cepção subjetiva do prazer alimentar.   O processo de saciedade também envolve uma complexa interação de sinais neurais do trato gastrointestinal , que informam sobre o preenchimento gástrico e duodenal, sinais químicos dos nutrientes no sangue  como glicose, aminoácidos e ácidos graxos, além dos hormônios gastrointestinais como CCK, peptídeo YY, insulina, grelina, GLP e GIP, e os sinais dos hormônios liberados pelo tecido adiposo , como a leptina. Para que todos esses mecanismos de saciedade sejam ativados de maneira eficaz, é crucial um período mínimo de 15 minutos desde o início da refeição , permitindo que os sinais necessários sejam transmitidos e processados adequadamente. Além disso, alguns hormônios, como a colecistoquinina, GLP-1 e GIP, são liberados apenas quando o alimento alcança o intestino, reforçando ainda mais o controle metabólico da ingestão alimentar e a sensação de saciedade. Mindful Eating na Reprogramação Epigenética Existem polimorfismos genéticos associados à fome, saciedade, obesidade e tendências compulsivas. O FTO , por exemplo, está ligado ao aumento da grelina e à redução da leptina, o que resulta na preferência por alimentos doces e ricos em gordura , especialmente aqueles com alto índice glicêmico e gordura saturada. Similarmente, o MC4R  está associado à menor sensação de saciedade e metabolismo mais lento,  contribuindo para um ganho de peso progressivo, especialmente em indivíduos obesos com resistência à insulina e leptina. Além desses, a enzima COMT , responsável pela degradação de neurotransmissores como dopamina e noradrenalina, influencia a propensão à impulsividade, vícios e compulsão alimentar em pessoas com uma COMT mais rápida.  Por outro lado, o receptor canabinóide CB1,  enquanto relacionado à redução da ansiedade e dor, pode dificultar a obtenção da saciedade. Para lidar com esses polimorfismos, estratégias eficazes incluem  fracionar as proteínas ao longo do dia, consumir fibras regularmente (como chia, linhaça, farelo de aveia, psyllium, folhas e legumes), adotar uma dieta com baixo teor de carboidratos e alto teor proteico, e priorizar a ingestão de saladas e legumes antes das proteínas e carboidratos.  Além disso, medicamentos que aumentam a saciedade , como análogos de GLP-1 e GIP, e a prática de Mindful Eating , que promove uma relação mais consciente e saudável com a comida, são estratégias valiosas para equilibrar essas predisposições genéticas com hábitos alimentares saudáveis. Melhora dos Transtornos Alimentares O Mindful Eating é amplamente reconhecido como uma abordagem altamente eficaz no tratamento de transtornos alimentares , como Compulsão Alimentar e Comer Emocional. Nestes transtornos, a sensação de recompensa associada ao comportamento alimentar contribui para a repetição do ciclo, ativando o sistema cerebral de recompensa e resultando na liberação de dopamina no organismo. Além disso,  fatores comportamentais muitas vezes têm uma correlação maior com a perda de peso do que a própria composição da dieta . Prática Clínica Para orientar alguém ao Mindful Eating, é crucial estabelecer um forte vínculo entre o profissional e o paciente.  Comece observando o cheiro, a cor, o sabor e a textura dos alimentos, enquanto presta atenção à reação emocional ao ver e comer. Mastigue devagar, saboreando cada mordida e apreciando a textura, aroma e sabor dos alimentos. Durante a refeição, observe seus pensamentos e emoções relacionados aos alimentos, permitindo que fluam naturalmente. Reduza o estresse e a pressa, evitando distrações para desfrutar plenamente da experiência de comer com atenção plena . Esteja atento aos sinais de fome e saciedade do corpo, evitando comer por impulso ou emoção. Continue estudando... Sugestão de leitura: Mindfulness Eating no Tratamento da Compulsão Alimentar Sugestão de leitura: Mindful Eating: Comer com Consciência e Atenção Plena Sugestão de leitura: Mindful Eating e seu papel na luta contra obesidade e transtornos alimentares