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Brunno Falcão

3 min

26 de ago. de 2021

Uma infinidade de microrganismos habita o intestino humano. Bactérias, fungos, vírus e protozoários residentes nessa região formam o microbioma - ou microbiota – intestinal. Quando há equilíbrio entre esses microrganismos, as bactérias metabolizam carboidratos não digeríveis e sintetizam ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), que servem como fonte de energia para os enterócitos e possuem efeitos anti-inflamatórios sistêmicos. Dessa forma, o microbioma auxilia na defesa do organismo, pois torna o ambiente impróprio para a proliferação de microrganismos potencialmente patogênicos e ainda oferece substrato para fortalecer a mucosa intestinal. Ainda, já foram identificadas diversas outras funções da microbiota que podem impactar positivamente a saúde do hospedeiro. Quando há um desequilíbrio da microbiota, a fermentação bacteriana é prejudicada, o ambiente fica mais suscetível à proliferação de microrganismos patogênicos e ocorre o aumento da permeabilidade intestinal. Todas essas alterações geram um processo inflamatório e aumentam o risco de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis. Os quadros de dibiose intestinal podem estar associados a sintomas como: dor abdominal, náuseas, constipação, diarreia, distensão abdominal e saciedade precoce. Entretanto, vale lembrar que é possível que pacientes com disbiose não apresentem sintomas facilmente identificáveis. Uma alimentação balanceada, rica em alimentos naturais, com a quantidade adequada de antioxidantes, fibras, vitaminas e minerais é capaz de manter a microbiota saudável. Entretanto, quando a disbiose já está instalada, é preciso reverter esse quadro, fornecer substratos para que o organismo seja capaz de digerir adequadamente os alimentos, recuperar a integridade da mucosa intestinal e ofertar, de maneira temporária, microrganismos potencialmente benéficos à saúde que podem contribuir para a recuperação da microbiota nativa. Com o objetivo de recuperar o funcionamento adequado do trato gastrointestinal e o equilíbrio da microbiota intestinal, foi desenvolvido o Protocolo 5R. Esse programa é dividido em 5 etapas, que estão descritas abaixo: 1 – Remover – Remoção de microrganismos potencialmente patogênicos para o trato gastrintestinal incluindo fungos, bactérias e parasitas que prejudicam o equilíbrio da microbiota. A exclusão de alimentos potencialmente alergênicos (de forma individualizada) também é necessária, pois esses produtos podem aumentar a permeabilidade intestinal, gerando uma inflamação sistêmica e prejudicando o funcionamento dos demais órgãos, especialmente quando há translocação de bactérias para os enterócitos. Importante avaliar também a necessidade de outras substâncias que podem promover irritação da mucosa gástrica tais como café, álcool, agrotóxicos, adoçantes e aditivos químicos. 2 – Recolocar enzimas digestivas – Mastigação inadequada, uso de medicamentos, estresse, deficiências nutricionais e cirurgias gástricas podem prejudicar a síntese e a excreção de enzimas essenciais para a digestão e, consequentemente, a absorção dos nutrientes não será eficiente. A utilização de enzimas digestivas recupera a capacidade digestória e favorece a absorção de nutrientes minimizando os riscos de disbiose intestinal e de deficiências nutricionais. 3 - Reparar a mucosa intestinal – A mucosa intestinal é uma barreira física capaz de impedir que toxinas e microrganismos prejudiciais à saúde migrem para o interior das células. Entretanto, a disbiose reduz essa capacidade de seletividade da barreira intestinal. Reconstruir essa mucosa é essencial para reduzir o processo inflamatório e permitir que os nutrientes sejam absorvidos de maneira adequada, além de ser essencial para garantir uma microbiota em equilíbrio 4 – Reinocular bactérias probióticas e utilizar fibras prebióticas – Nos quadros de disbiose algumas bactérias benéficas são eliminadas e outras apenas reduzem a quantidade. Em qualquer um dos casos, é necessário reintroduzir bactérias benéficas para que a microbiota nativa se restabeleça e exerça o seu papel de proteger a saúde do hospedeiro. Além disso, é preciso utilizar fibras prebióticas, que servem de “alimentos” para o microbioma. O uso de probióticos é indicado inclusive como adjuvante no tratamento de diversas doenças crônicas, tais como ansiedade e depressão. 5 – Relieve (aliviar) – Os sintomas gastrointestinais de disbiose (dor abdominal, náuseas, constipação, diarreia, distensão abdominal, cólica abdominal e flatulência) devem ser tratados para garantir o conforto dos indivíduos. Chás de gengibre, boldo, carqueja, erva-doce e hortelã auxiliam na digestão e reduzem esses sintomas. Singh RK, Chang HW, Yan D, Lee KM, Ucmak D, Wong K, Abrouk M, Farahnik B, Nakamura M, Zhu TH, Bhutani T, Liao W. Influence of diet on the gut microbiome and implications for human health. J Transl Med. 2017 Apr 8;15(1):73.