Os benefícios do exercício físico são amplamente conhecidos, com diversos benefícios metabólicos e fisiológicos, além de possibilitar o tratamento de diversas doenças metabólicas. Contudo, a prática de atividade física não é algo frequente em boa parte da população mundial, tornando um ambiente mais propício para o sedentarismo.
O desenvolvimento da ciência do exercício e da compreensão das vias moleculares que respondem à prática esportiva, levou ao desenvolvimento de intervenções químicas com intuito de simular as mudanças fisiológicas induzidas pelo exercício físico, sem a prática do mesmo. Tendo isso em vista, foram pautadas algumas substâncias que poderiam ter efeitos semelhantes ao exercício físico.
AICAR
O AICAR, também conhecido como AICA-ribonucleotídeo, é um metabólito intermediário na via de síntese de novo monofosfato de inosina. Foi usado pela primeira vez em 1992 como uma medida protetora contra doenças cardíacas. Visando o exercício, o AICAR tem um potencial farmacológico de ativar a proteína AMPK, essa proteína tem um papel central no metabolismo celular promovendo maior beta-oxidação, uma melhor captação de glicose e um aumento na biogênese mitocondrial. Além disso, o AICAR tem potencial de ativar a PGC-1 que também auxilia na biogênese mitocondrial. Aparentemente, esse metabólito está mais envolvido com o metabolismo oxidativo.
GSK4716
O GSK4716 é uma molécula agonista de receptores relacionados ao estrogênio [EER]. Essa molécula tem efeitos na angiogênese (maior formação de vasos sanguíneos), na biogênese mitocondrial e na transformação das miofibrilas do músculo, além de uma contribuição na ativação da AMPK. Essa molécula é expressa predominante em fibras de contração lenta, devido a isso o GSK4716 tem papel-chave na regulação do fenótipo das fibras oxidativas.
GW501516
O GW501516 é um agonista de PPAR δ (Receptores ativados por proliferadores de peroxissomo), ou seja ele tem papel na ativação desse receptor.O PPAR δ é membro da família de receptores nucleares que desempenha diversas funções vitais na regulação do músculo esquelético.
A princípio, o GW501516 foi usado para o aumento do uso de ácidos graxos no músculo esquelético, demonstrando um potencial de aplicação no tratamento de doenças como diabetes do tipo 2, dislipidemias e síndrome metabólica.
SR9009
O SR9009 é um composto sintético agonista de REV-ERB α. O REV-ERB α é um composto da família REV- ERB de receptores nucleares. Algumas funções provenientes da SR9009 são uma diminuição do fluxo de autofagia, um maior catabolismo de ácidos graxos, um aumento na biogênese mitocondrial do músculo esquelético. Outro ponto a se ressaltar, é que esse composto aparentemente desempenha uma função na regulação do ciclo circadiano.
MOTS-c
O MOTS-c é um hormônio codificado no DNA de mitocôndrias. Os MOTS-c atuam no ciclo do folato, que bloqueia a via de biossíntese das purinas, resultando em um acúmulo de AICAR e consequentemente em um aumento de AMPK. Outro efeito dos MOTS-c é a regulação do metabolismo sistêmico da glicose, restaurando a sensibilidade à insulina.
Irisina
A irisina é uma miocina (espécie de citocina) secretada pelo músculo esquelético induzida pelo exercício e tem como alvo o tecido adiposo branco. Basicamente, a irisina estimula o browning do tecido adiposo branco e aumenta a expressão da proteína (UCP-1), ocasionando em um aumento da termogênese e do gasto energético, esse efeito foi relatado como um possível adicional no tratamento de obesidade.
Epicatequinas
As epicatequinas são flavonoides encontrados em chás, uvas e plantas. Alguns efeitos benéficos relatados foram, uma maior disponibilidade de óxido nítrico (aumentando as células endoteliais), angiogênese em músculos cardíacos e esquelético, além de promover a biogênese mitocondrial. Em adição, foram relatadas propriedades fisiológicas para tratar lesões no miocárdio.
Resveratrol
O resveratrol é polifenol natural, presente em diversos alimentos, como vinho tinto, uvas e blueberries. Os efeitos relatados deste polifenol foram, aumentos na biogênese mitocondrial, maior sensibilidade à insulina e maior angiogênese. Além disso, foram relatados uma capacidade otimizada em exercícios endurance e potencial de tratamento em diabetes tipo II e obesidade.
Prática Clínica
Por mais que os efeitos fisiológicos sejam potencialmente interessantes, a quantidade e nível de evidências sobre as substâncias citadas acima, são muito escassas e fracas. Além disso, nenhuma das substâncias demonstraram efeitos significativos em comparação ao exercício.
Tendo isso em vista, é necessário mais estudos de qualidade para realmente elucidar a real magnitude dessas substâncias, tanto na prática clínica, quanto na esportiva.
Referências Bibliográficas
LI, Shunchang; LAHER, Ismail. Exercise Pills: at the starting line. Trends In Pharmacological Sciences, [S.L.], v. 36, n. 12, p. 906-917, dez. 2015. Http://dx.doi.org/10.1016/j.tips.2015.08.014.
Sugestão de Leitura: OS EFEITOS DOS FLAVONOIDES DO CACAU NO ESTRESSE OXIDATIVO E NA RECUPERAÇÃO MUSCULAR.
