Os distúrbios da interação intestino-cérebro (DIIC), anteriormente conhecidos como distúrbios gastrointestinais funcionais, afetam aproximadamente 40% da população mundial. Dentre os sintomas gastrointestinais de pacientes com esses distúrbios, o inchaço abdominal é um dos mais frequentes, o qual afeta 3,5% da população geral e 23% daqueles encaminhados a uma clínica de gastroenterologia geral. Dessa forma, a qualidade dos alimentos consumidos desempenham um papel importante na fisiopatologia desses distúrbios, o que traz à tona estudos que abordam estratégias que possibilitem a melhora desse quadro.
Inchaço Abdominal e Distúrbios da Interação Intestino-Cérebro
O inchaço/distensão abdominal funcional (IDAF) refere-se a um inchaço recorrente – uma sensação de plenitude abdominal – e/ou distensão – um aumento mensurável na circunferência abdominal. Sua patogênese é complicada, multifatorial, não totalmente compreendida e pode estar associada a possíveis fatores como a microbiota alterada, motilidade gastrointestinal anormal, dissinergia abdominofrênica, disfunção do assoalho pélvico e hipersensibilidade visceral. Vale destacar que em pacientes com síndrome do intestino irritável (SII), um tipo de DIIC, por volta de 96% deles relatam inchaço e distensão abdominal, com esses sintomas coexistindo frequentemente. Entenda mais sobre dietas e SII com Vitória Corrêa no Youtube da Science Play
No geral, uma possível abordagem para o tratamento de pacientes com inchaço/distensão abdominal diz a respeito da eliminação de alimentos produtores de gás, como cebola, ameixa e brócolis; e dos alimentos que estimulam os sintomas gastrointestinais, bem como a adoção de hábitos alimentares saudáveis, ou seja, refeições regulares, restrição de álcool e alimentos condimentados eliminar da dieta. Ademais, a literatura cita a dieta low-FODMAP como possível estratégia dietética para o tratamento do inchaço/distensão abdominal funcional.
Dieta Low-FODMAP e IDAF
A dieta low-FODMAP é uma dieta de baixa fermentação de oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis. Seu papel na patogênese dos sintomas gastrointestinais funcionais foi estudado principalmente em pacientes com síndrome do intestino irritável. Diante disso, a literatura destaca uma significativa sobreposição sintomática e patogenética entre o inchaço/distensão abdominal funcional e a síndrome do intestino irritável, com isso é possível que os mesmos mecanismos fisiopatológicos estejam envolvidos em ambos distúrbios.
Nesse contexto, devido à relação entre os FODMAPs e a SII, é provável que exista também uma relação entre o consumo dos FODMAPs e a inchaço/distensão abdominal funcional. Dessa forma, uma dieta rica em FODMAP associa-se a um aumento da água intraluminal, motilidade intestinal aberrante, disbiose e hipersensibilidade visceral, dessa maneira a dieta Low-FODMAP pode ser um estratégia recomendada em determinados casos de IDAF.
Fases da Dieta Low-FODMAP
Em um período de 2 a 8 semanas tem-se uma restrição da ingestão de alimentos ricos em FODMAPs, estes são substituídos por alimentos adequados com baixo teor de FODMAPs do mesmo grupo alimentar. Nesse período, quando se nota a ausência de benefício clínico, é aconselhável uma tentativa com um tratamento alternativo.
Posteriormente, têm-se a reintrodução gradual dos alimentos ricos em em FODMAPs, levando em consideração as necessidades e preferências nutricionais do paciente. Essa fase é realizada a cada 2 a 3 dias a fim de permitir a identificação de gatilhos alimentares específicos e a reintrodução de alimentos tolerados na dieta.
Por fim, é definido uma dieta de manutenção personalizada levando em consideração os alimentos que são gatilhos para os sintomas graves. Assim reintroduzindo aqueles alimentos que são ricos em FODMAPs, mas que são bem tolerados.
Prática Clínica
O estudo descrito aqui destaca que a adesão à segunda e terceira fases pode ser insatisfatória na ausência de apoio de um nutricionista. Além disso, antes da prescrição é necessário uma avaliação nutricional completa, pois dietas restritivas devem ser evitadas em pacientes em risco de desnutrição. Outrossim, a evidência indireta sobre a eficácia potencial de dieta low-FODMAP em inchaço/distensão abdominal funcional é fornecida pela redução do inchaço em pacientes com SII.
Referências Bibliográficas
Sugestão de leitura: FODMAP na síndrome do intestino irritável
Assista o vídeo na Science Play com Márcio André: Dieta Low FODMAP
Artigo IDAF e dieta low-FODMAP: Pessarelli T, Sorge A, Elli L, Costantino A. The low-FODMAP diet and the gluten-free diet in the management of functional abdominal bloating and distension. Frontiers in Nutrition. 2022;9. doi:https://doi.org/10.3389/fnut.2022.1007716