Macronutrientes na Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica

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A DHGNA ou doença hepática gordurosa não alcoólica, é um problema de saúde pública que afeta aproximadamente um quarto da população mundial. Esta pode variar desde um acúmulo excessivo de triglicerídeos intra-hepáticos, até a esteato-hepatite não alcoólica (NASH). Com isso, vários estudos buscam entender a associação da alimentação e da superalimentação nos desfechos dessa doença, bem como o impacto dos macronutrientes. 

Vale destacar que a expansão do tecido adiposo subcutâneo ocorre durante o balanço energético positivo, e quando este atinge a capacidade máxima para armazenar energia, tem-se uma deposição generalizada de gordura ectópica órgão-específica no tecido adiposo visceral. À vista disso, é notório que a composição da dieta possui um impacto importante na patogênese da DHGNA, assim como as diferentes composições dos macronutrientes na dieta influenciam as mudanças induzidas pelo ganho de peso no conteúdo aumento dos triglicerídeos intra-hepáticos. 

Carboidratos e DHGNA

Os carboidratos mais estudados relacionados à DHGNA são a glicose e a frutose. Diante disso, resultados de estudos clínicos sugerem que as bebidas açucaradas estão relacionadas ao risco de síndrome metabólica, aumento dos níveis de triacilglicerol,  estímulo  da lipogênese e aumento da gordura visceral. 

A literatura mostra que a frutose pode conduzir a DHGNA por vários mecanismos: o primeiro de forma hepática, ou seja, a frutose aumenta o fator de transcrição proteína de ligação ao elemento responsivo a carboidrato, enquanto também prejudica a oxidação hepática de ácidos graxos β; a segunda é mediada pelo intestino, isto é, a frutose é metabolizada principalmente pela frutoquinase, que é altamente expressa no intestino delgado, logo esse metabolismo resulta na ruptura das junções apertadas no intestino que leva a translocação de endotoxinas bacterianas e bactérias.

Ademais, a superalimentação com carboidratos demonstrou levar a aumentos significativos no teor de gordura hepática na maioria dos estudos. Exemplificando, ao atribuir 16 indivíduos com um IMC médio de 30,6 a uma dieta rica em carboidratos por 3 semanas foi observado uma alteração relativa 10 vezes maior na gordura hepática em comparação com o peso corporal. Além disso, em outro estudo observou-se que a superalimentação com cola ou leite adoçado com sacarose associa-se a um teor de gordura hepática significativamente maior no final da dieta. 

Por outro lado, o índice glicêmico (IG) dos carboidratos também mostraram influência na DHGNA, ou seja, a literatura relata um aumento na fração de gordura do fígado com uma dieta de alto IG, enquanto a gordura do fígado diminuiu após uma dieta de baixo IG. É importante lembrar que a frutose aqui descrita não refere-se àquela presente nas frutas, uma vez que a frutose presente nelas é relativamente menos do que a encontrada nas bebidas açucaradas; por exemplo, uma pêra contém cerca de 12 g de frutose, em comparação com aproximadamente 30g em uma garrafa de 450 ml de suco de frutas. 

Lipídeos e DHGNA

O aumento na gordura dietética aumenta a gordura hepática em indivíduos com peso normal, sobrepeso ou obesos envolvendo uma dieta isocalórica ou hipercalórica. Elucidando, um estudo teve como resultado que a gordura do fígado diminuiu em 20 ± 9% e aumentou em 35 ± 21% com a dieta de baixo e alto teor de gordura, respectivamente.

Além disso, dados evidenciam que o tipo de gordura consumido também é relevante. Dietas ricas em gorduras poliinsaturadas em comparação às ricas em ácidos graxos saturados, mostrou efeito positivo pois teve uma redução gordura do fígado, enquanto a ricas em ácidos graxos saturados apresentaram um aumento. Assim, o aumento da gordura hepática é positivamente correlacionado com aumentos de ácidos graxos saturados. 

Proteínas e DHGNA

A maioria dos estudos analisam o impacto dos carboidratos e lipídeos na DHGNA , apesar disso, a ingestão proteínas são relevantes na patogênese dessa doença. Isto significa que a suplementação de proteínas ou aminoácidos pode atenuar o acúmulo de gordura no fígado, uma atenuação estatisticamente significativa de aproximadamente 22%. Sendo assim, uma dieta rica em gordura e hipercalórica, com uma ingestão normal versus alta de proteína demonstrou que a maior ingestão de proteína tendia a diminuir a gordura hepática. Assim como, a suplementação uma dieta rica em frutose com aminoácidos essenciais, levou a uma atenuação no acúmulo de gordura no fígado quando comparado com uma dieta rica em frutose sozinha. 

Prática Clínica

O tratamento para DHGNA gira em torno principalmente da mudança no estilo de vida, perfil que envolve a alimentação e a prática de exercícios físicos. Com isso, nutricionalmente falando é importante que no manejo dessa doença sejam consideradas as proporções adequadas de macronutrientes, bem como sua qualidade. 

Referências Bibliográficas

Sugestão de leitura: A suplementação de vitaminas para tratamento de doenças hepáticas é eficaz?

Artigo Macronutrientes  e  DHGNA: Hydes T, Alam U, Cuthbertson DJ. The Impact of Macronutrient Intake on Non-alcoholic Fatty Liver Disease (NAFLD): Too Much Fat, Too Much Carbohydrate, or Just Too Many Calories? Frontiers in Nutrition. 2021;8. doi:https://doi.org/10.3389/fnut.2021.640557

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