A síndrome do intestino irritável é uma doença gastrointestinal com um impacto global, afeta 3,8 – 4,8% da população em geral. A dor abdominal crônica é recorrente associada a forma e/ou frequência alterada das fezes, quadro comum nesses pacientes. Acredita-se que esta patologia esteja relacionada com a desordem de comunicação intestino-cérebro, hipersensibilidade visceral, infecção gastrointestinal, inflamação do trato digestivo, e alterações da função cerebral.
Dessa forma, é imprescindível a mudança dietética na gestão da síndrome do intestino irritável, especialmente no quando com a adesão de uma dieta baixa em FODMAP, é possível perceber o paciente mais responsivo ao tratamento. FODMAP é uma abreviatura de “Fermentable Oligosaccharides, Disaccharides, Monosaccharides, and Polyols” (Oligossacarídeos Fermentáveis, Dissacarídeos, Monossacarídeos e Polióis). Estão numa variedade de alimentos, como frutas, legumes, leite, leguminosas, mel, e edulcorantes. Alguns alimentos contêm apenas um tipo, enquanto outros contêm vários tipos.
Na prática clínica, é comum que a síndrome do intestino irritável (SII) se combine com o crescimento excessivo de bactérias no intestino delgado (SIBO). Vários sintomas são partilhados tanto pela SIBO como pela SII, incluindo dor abdominal, distensão, diarreia e inchaço.
Risco do Excesso de FODMAP
Uma dieta elevada em FODMAP pode agravar a inflamação intestinal, danificar a barreira epitelial intestinal, e desencadear sintomas, como dor abdominal, inchaço, e urgência fecal. O FODMAP pode ativar mastócitos e libertar mais mediadores inflamatórios, por exemplo, a histamina, que pode afetar o sistema imunitário.
O FODMAP é mal absorvido ou não absorvido em indivíduos saudáveis, dessa forma substâncias moleculares pequenas em excesso aumentam a atividade osmótica forçando a água a entrar e a expandir a cavidade intestinal. Quando o FODMAP não absorvido entra no cólon, torna-se o substrato para a fermentação de bactérias produtoras de gases. O excesso de gás agrava ainda mais a expansão da cavidade intestinal e desencadeia os sintomas clínicos da síndrome.
Dessa forma, o FODMAP agrava a hipersensibilidade visceral, pois a distensão abdominal leva a um aumento da pressão no lúmen, e com isso o fluxo sanguíneo diminui de forma gradual. Esta alteração no fluxo sanguíneo promove a alteração do funcionamento do sistema nervoso autonómico e dos neurotransmissores importantes.
Essa hipersensibilidade visceral é uma das características mais críticas da patogênese da síndrome do intestino irritável e está significativamente relacionada com a diminuição da microcirculação sanguínea do cólon. Essa microcirculação desempenha um papel crítico no corpo humano, pois fornece oxigênio, energia, e mantém a homeostase. Além disso, medeia a atividade do sistema imunitário e hemostasia. E por isso, um estudo recente mostrou que uma dieta pobre em FODMAP poderia aliviar a hipersensibilidade visceral, melhorando a microcirculação do cólon.
Prática Clínica
O consumo menor de FODMAP pode aliviar os sintomas em alguns pacientes com síndrome do intestino irritável. Estudos demonstraram que a microcirculação é necessária para manter a função primária do sistema gastrointestinal. O estudo em questão mostrou que uma das possíveis causas para o surgimento da síndrome pode estar relacionada com anomalias na microcirculação do cólon. Uma dieta pobre em FODMAP poderia aliviar a hipersensibilidade visceral melhorando a microcirculação do cólon; Além de diminuir a dor induzida por histamina, aumentar a barreira intestinal, diminuindo processos inflamatórios e sintomas comuns, como distensão abdominal e alteração/frequência das fezes.
Referências Bibliográficas
Sugestão de estudo: Dieta Glúten-free ou Low-FODMAPS para a Síndrome do Intestino Irritável? – Science Play
Assista o vídeo na Science Play com Karina Al Assal: Intestino Irritável e Estratégias Low FODMAP
Artigo: Hu C, Yan C, Wu Y, Tao E, Guo R, Zhu Z, Chen X, Fang M, Jiang M. Low FODMAP Diet Relieves Visceral Hypersensitivity and Is Associated with Changes in Colonic Microcirculation in Water Avoidance Mice Model. Nutrients. 2023; 15(5):1155. https://doi.org/10.3390/nu15051155
