É de comum conhecimento que o consumo excessivo de álcool é uma das principais causas de morte e incapacidade em todo o mundo. Apesar disso, o consumo moderado e de forma adequada está associado a redução dos malefícios ao organismo. Um dos principais benefícios observados da redução do consumo foi no metabolismo da glicose, no qual esteve documentado em vários ensaios clínicos bem desenhados. Por isso, um estudo buscou investigar as associações da ingestão de álcool em relação às refeições e a quantidade de ingestão de álcool com o risco de diabetes mellitus tipo 2 (DM2) e biomarcadores relacionados a DM2.
Álcool e Diabetes: Interpretação da Literatura
O estudo em questão mostrou que a ingestão moderada de álcool (≥100 a <200 g/semana) com as refeições foi significativamente associada a um menor risco de DM2 do que beber fora das refeições. Essa associação favorável entre o consumo alcoólico moderado e as refeições, foi apoiada por vários estudos de alimentação bem desenhados de longo prazo.
Para mais, quando analisados biomarcadores relacionados a DM2, observou-se associações benéficas entre a ingestão de álcool e os níveis de hemoglobina glicada (HbA1c), nos quais eram mais fortes nos participantes que consumiam álcool durante as refeições do que naqueles que não consumiam, ou seja, a ingestão de álcool durante as refeições relacionou-se a níveis mais baixos de HbA1c.
Também, foi avaliado os níveis de proteína C reativa (PCR), uma vez que este é um um marcador de inflamação sistêmica de baixo grau, e seu efeito anti-inflamatório é um dos mecanismos biológicos importantes subjacentes à associação benéfica do consumo de álcool com o risco de DM2. Diante disso, o consumo de álcool moderado durante as refeições associou-se a menores concentrações de PCR, mas foi associado a maiores concentrações de PCR em participantes que consumiram álcool fora das refeições.
Existe uma bebida alcóolica mais indicada?
Ademais, quando comparadas três bebidas alcoólicas: vinho, cerveja e licor; foram observadas associações diferenciais em relação às concentrações de PCR. Isto é, o maior consumo de vinho foi associado com menores concentrações de CRP, enquanto o maior consumo de cerveja ou licor foi significativamente associado a maiores concentrações de PCR.
Dessa forma, as análises feitas relacionadas a vários tipos de bebidas alcoólicas indicaram que as associações benéficas entre o consumo de álcool com as refeições e os biomarcadores relacionados ao DM2 foram observadas principalmente no consumo de vinho.
Até o momento não está claro se as associações benéficas do vinho são em detrimento dos componentes não alcoólicos, como os polifenóis, ou ao estilo de vida mais saudável que é observado em bebedores de vinho, quando comparados com os não bebedores. Apesar disso, ensaios clínicos mostraram que o vinho pode conferir maiores efeitos anti-inflamatórios do que outras bebidas alcoólicas devido às propriedades anti-inflamatórias dos polifenóis.
Estes dados também foram demonstrados em um estudo de intervenção com duração de dois anos, o qual mostrou que uma ingestão moderada de vinho, como parte de um jantar, diminuiu significativamente os níveis de HbA1c, as concentrações de glicose em jejum e melhorou a resistência à insulina em pacientes diabéticos bem controlados.
Prática Clínica
Diante disso, é indicado o consumo no máximo moderado de álcool, em especial o vinho, juntamente com as refeições para um menor risco de DM2 em bebedores esporádicos. Vale lembrar que é muito importante levar em consideração o momento da ingestão de álcool e a quantidade.
Referências Bibliográficas
Sugestão de leitura: Efeitos de uma dieta de baixo índice glicêmico em pacientes com diabetes
Veja a aula de Pedro Guilherme Renke na plataforma Science Play: Resistência à Insulina e Síndrome Metabólica
Hao Ma, Xuan Wang, Xiang Li, Yoriko Heianza, Lu Qi. Moderate alcohol drinking with meals is related to lower incidence of type 2 diabetes. The American Journal of Clinical Nutrition, Volume 116, Issue 6, December 2022, Pages 1507–1514.