As substâncias THC e CDB, Δ9-tetrahydrocannabinol e canabidiol, são produzidos pela mesma planta (Cannabis) com estruturas químicas semelhantes, mas que se diferem nos seus mecanismos de ação e efeitos sob as funções cerebrais. O THC é frequentemente referido como o principal composto “psicotrópico” e CBD como o principal composto “não-psicotrópico”. Neste contexto, por definição, são categorizados como uma substância psicotrópica por apresentarem potencial de ação no cérebro. Abaixo você vai conhecer mais sobre mecanismos de ação, efeitos colaterais e indicações de cada substância.
THC e CDB: Mecanismo de ação
A bioatividade do THC flutua em função da sua via de administração, taxa e extensão de absorção, metabolismo e excreção. Sabendo disso, a inalação de cigarros à base de Cannabis é a via mais comum de administração, visto que promove rápida absorção, atingindo o pico de THC em minutos no sangue e passando rapidamente pela barreira hematoencefálica. Já a absorção via oral de THC é mais lenta e as concentrações máximas de THC são atingidas 1-3 h após a dosagem, sugerindo uma exposição prolongada mesmo após uma única ingestão.
Dessa forma, quando o THC alcança o cérebro modula as atividades de múltiplas proteínas proporcionando benefícios terapêuticos específicos. Por exemplo, o THC ativa o receptor canabinóide 1 e modula as funções neuronais reduzindo a libertação de neurotransmissores pré-sinápticos (como glutamato, GABA e acetilcolina), induzindo plasticidade sináptica e ajustando o metabolismo energético e o fenótipo celular através de alterações na expressão genética.
No que se trata do CDB, o potencial terapêutico das formulações via oral é limitado pela fraca biodisponibilidade e por um metabolismo hepático de primeira passagem extensivo. No entanto, a inalação contorna a vulnerabilidade atribuída à absorção gastrointestinal irregular e ao metabolismo hepático, e conduz eficientemente o CBD à circulação sistémica, o tornando ainda mais polifarmacológico do que o THC, com apenas alguns alvos comuns.
Ademais, o CDB também modula a atividade de vários receptores de proteína, como inibição da sinalização do receptor canabinóide 1 ao interagir diretamente com um sítio de ligação deste alvo, reduzindo a ação do THC e inibindo a plasticidade sináptica e aumenta a neurotransmissão GABAérgica.
THC e CDB: Efeitos colaterais
O uso de THC pode gerar efeitos colaterais, como dormência e formigueiro das extremidades, tonturas, sentimentos “flutuantes”, e perda de concentração seguida de euforia, palpitação, suor, tremor, e fraqueza. Os sujeitos também relatam deficiências cognitivas descritas como dificuldade em prestar atenção, dificuldade em expressar-se, confusão mental, e perda de sentido do tempo (por exemplo, um minuto parece ser vários minutos).
Entretanto, apesar dos aspectos negativos, o THC mostra uma eficácia terapêutica promissora, considerando as múltiplas vias de modulação. Por isso, tem sido relacionado no tratamento da dor, distúrbios do sono, convulsões, esclerose múltipla, e doença de Huntington.
Já o tratamento com CBD pode ajudar na ansiedade, depressão, sono e possui propriedades analgésicas, pelo menos quando utilizada em doses elevadas. Além disso, está associada a algum nível de melhoria do espectro autismo, pois ajuda no déficit de atenção, hiperatividade, comunicação, interação social e cognitivos. Outro exemplo do seu potencial é para o tratamento da toxicodependência, a CDB tem potencial de desintoxicação e diminuição dos sintomas agudos ou prolongados relacionados com a abstinência de várias drogas, incluindo opióides, psicoestimulantes, e álcool.
Assim, estes estudos indicam que um punhado de efeitos secundários reversíveis e transitórios (por exemplo, sonolência, diminuição do apetite, diarreia e fadiga) pode ocorrer em alguns indivíduos que tomam doses elevadas de CBD e que a utilização de doses mais baixas é segura, embora ainda influencia significativamente o comportamento.
Prática Clínica
Ambos apresentam propriedades terapêuticas promissoras; contudo, as deficiências e o aumento da incidência de doenças da saúde mental estão associados ao uso agudo e crônico de THC, enquanto os efeitos secundários de CBD só são significativos quando estão associados em doses altas por longo prazo.
O CDB ajuda a diminuir os efeitos prejudiciais do THC no cérebro em desenvolvimento. Especificamente, o THC desencadeia perturbações imediatas e a longo prazo na memória, aumenta a ansiedade na idade adulta e aumenta os comportamentos repetitivos e compulsivos. Todas estas anomalias comportamentais induzidas pelo THC foram atenuadas pela co-administração da CBD, enquanto que a CDB, enquanto agente único, não gerou resultados comportamentais.
Referências bibliográficas
Sugestão de estudo: Os medicamentos à base de cannabis estarão disponíveis no SUS em São Paulo – Science Play
Assista o vídeo na Science Play com Leando Medeiros: Uso Terapêutico de Produtos à Base de Cannabis
Stella N. THC and CBD: Similarities and differences between siblings. Neuron. 2023;111(3):302-327.